domingo, 3 de agosto de 2008

Marco, o gato do Polo

Gente, o relato a seguir é uma histórica verídica, ocorrida no dia 3 de maio de 2007. Na hora, foi uma experiência muito angustiante. Mas depois dei muitas risadas e fiquei muito satisfeita com o final feliz. Vejam só se uma coisa dessas pode acontecer com uma gateira??

O relógio tocou às 7h45min. Apertei o soneca e apaguei. Às 7h50min acordei com um ressalto, corri para o banho, porque antes de ir para o trabalho, deveria deixar o meu marido no médico. Ele também se aprontou rápido. Na hora de sairmos, o telefone do meu marido tocou. Eu resolvi pegar um táxi (acho que era um sinal) e deixar o carro com ele. Mas, ele pediu para eu ir de carro, que ele iria de táxi. Tudo bem.
Desci para a garagem, dei partida no carro. Acabou que meu marido conseguiu descer a tempo e pegou uma carona comigo. Ele entrou e, então, saímos. Ao passar pelo portão do prédio ouvimos um “miau” bem perto do carro.
Nossa gata tinha ficado em casa, cinco andares acima da garagem, com as portas trancadas e todas as janelas teladas. Só poderia ser coisa da imaginação. Mas, o miado se repetiu... Só poderia ser o volante, que às vezes faz uns barulhinhos agudos, mas que costumam ser bastante baixos e discretos.
Andamos mais alguns metros e o miado ficava mais alto. Só poderia ser... um gato, ora! Mas onde ele estaria???
Paramos na calçada mais próxima, abrimos as portas do carro, o capô, a mala e tudo mais que possuísse portas e dobradiças, esperando encontrar o bichano. Nenhum rastro. Voltamos a pensar que era o barulho do volante. Afinal, era impossível ser um gato.
Partimos novamente e o “miau” recomeçou, como se fosse um pedido de “Socorro, alguém me tira daqui!”
A partir daí, o que estávamos achando engraçado começou a assumir um tom dramático. Como eu poderia continuar com o carro ligado e em movimento com um gatinho indefeso prestes a estourar seus miolos em alguma engrenagem do motor??? E pensar que ele poderia cair do carro e ser atropelado por mim ou por qualquer outro automóvel??? Ao mesmo tempo, já estávamos atrasados. Eu para o trabalho, meu marido para o médico, o que era grave.
Paramos novamente na rua. Nesse momento, meu pranto já havia começado. Meu marido, irritadíssimo com a situação (ele odeia gatos e odeia me ver chorar por eles), brigou comigo e revistou todo o carro novamente. É claro que não havia gato algum!
Já aceitando chegar mais tarde ao trabalho e ao médico, resolvemos esclarecer o enigma. Paramos em uma loja de pneus próxima e explicamos o que estava acontecendo. Os funcionários nos olharam como uma cara de quem diz: “Estão doidos”. Eu estava com os olhos vermelhos de tanto chorar, e isso deve ter contribuído para eles nos acharem ainda mais insanos.
O carro foi levantado por macacos hidráulicos. Revistamos todo ele por baixo. Enfiamos um ferro em cada buraquinho, batemos na lataria. Não havia espaço para um gato estar em nenhum lugar. Não havia nenhum barulho. Saímos de lá. Eu, particularmente, estava desolada. Como não tínhamos dinheiro trocado, então demos dez pratas pro funcionário, que sorriu de orelha a orelha. Mas, com certeza, continuou achando que nós havíamos bebido ou cheirado alguma "erva que passarinho não cheira".
Entramos no carro, e o sofrimento continuou. Mal saímos da loja, o bicho recomeçou a seqüência de miados. Novamente, entrei num pranto, pensando: "Por que isso tinha que acontecer logo comigo, que amo gatos?" "Por que logo hoje que estamos atrasados?" "Por que esse bicho resolveu entrar aqui?" "Como ele fez isso?" "Onde ele pode estar?"
Meu marido, já atrasado para o médico, sugeriu que parássemos na garagem do meu pai, que sempre tem boas idéias pra problemas difíceis como esse. Chegando lá, liguei para o meu pai do celular. Expliquei o que estava acontecendo e ele, obviamente, não entendeu nada, pois a história não era nada lógica. Ele desceu para a garagem e, mais uma vez, explicamos o drama com riqueza de detalhes.
Com uma lanterna, ele revistou cada buraquinho do carro. No capô, na mala, embaixo... É claro que ele não acreditou na gente. Não havia como ter um gato dentro do carro, só na nossa imaginação. Os miados pararam, o que contribuía para todos acharem que eu havia enlouquecido. Até que eu resolvi tomar coragem para ligar o carro. Sempre imaginando, claro, aquela cena do gato com miolos estourados e muitos pêlos voando e grudados por todos os lados.
Ufa! Respirei fundo, pisei no acelerador e esperei alguns segundos. Tendo meu pai como testemunha, um miado ecoou bem alto. Miauuuu! (tradução: “Socoooorro!!”). Então, meu pai nitidamente mudou sua fisionomia. De descrença, para a perplexidade. Realmente havia um gato dentro do carro! Além disso, ele deve ter ficado aliviado, pensando que a filhinha querida estava sã.
As buscas pelo sobrevivente recomeçaram com ainda maior empenho. Os porteiros vieram para ver o que acontecia na garagem. Mas olhavam meio de lado pro negócio, porque obviamente também estavam descrentes de que havia um gato ali dentro daquele carro.
De repente, me bateu uma idéia. Meus pais também têm um gato! Eu poderia pegar a ração dela e colocar um pouco em um buraco próximo ao pára-choque. Quem sabe ele não sairia do esconderijo atraído pelos prazeres da gula?
Subi ao apartamento do meu pai. A empregada atendeu a porta e eu entrei como uma flecha em direção ao quarto de empregada, à procura de comida de gato. Passei pela cozinha rápido, minha mãe quase se engasgou com o pão do café-da-manhã, porque pensou que algo realmente grave tinha acontecido. Saiu atrás de mim perguntando o que eu queria, e eu disse que eu queria comida de gato. Comida de gato??? Mas, para quê??? Perguntou ela. E eu, prontamente, respondi: pro gato que está preso dentro do carro!
Pronto: pânico! Minha mãe achou que eu tinha pirado de vez. Meu pai tinha descido sem avisar nada a ela. Ou seja, ela não sabia da missa a metade Aí, eu tive que contar a história. Acho que foi a primeira a acreditar no drama. Afinal, mãe é mãe.
Coloquei a comida dentro do pára-choque e ficamos aguardando pra ver se o gato "morderia a isca". Ficamos todos assistindo em silêncio, mas nada de ele aparecer.
Já muito atrasada para o trabalho, resolvi estacionar o carro e deixa-lo lá até que meu marido retornasse do médico. Quem sabe se o gato não sairia se o deixássemos um pouco em paz?
Completamente arrasada, segui para o trabalho. O que seria daquele gatinho? E se ele morresse lá dentro? Tínhamos que tira-lo de lá de dentro de qualquer jeito. Preferencialmente vivo. E se morresse também teríamos que remover o cadáver, afinal ninguém ia agüentar ficar com um bicho morto no capô do carro. Que situação desagradável.
Neste meio tempo, meu marido chegou do médico para pegar o carro na garagem dos meus pais. E, mais uma vez, as buscas recomeçaram. A platéia tinha aumentado. Tinha até um vizinho assistindo, também achando que estávamos contando a maior lorota da face da Terra. Os porteiros vieram novamente ajudar. Arrumaram uma mangueira para jogar água nos buraquinhos e compartimentos mais escondidos. Certamente, o gato sairia correndo de onde estivesse quando sentisse o primeiro respingo d’água. Mas, claro, nada aconteceu.
Pra divertir os espectadores, o coitado do porteiro, que colocou a mão dentro do pára-choque, ainda quase morreu do coração, quando meu marido resolveu apertar a buzina para lhe dar um susto e dar uma descontraída no clima. Particularmente, acho que ele arranjou um inimigo a partir deste o momento. O cara, que já estava com medo de ser arranhado pelo gato, deu um pulo pra trás, quase teve um treco. Nisso, todos tiveram um ataque de risos. Menos o porteiro e o gato, é claro, que além de preso, devia estar todo molhado e ainda apavorado com o barulho da buzina.
A cartada final então foi dada. Meu marido resolveu levar o carro ao mecânico. O gato foi de carona até lá, miando loucamente, é claro.
Como não é de se estranhar, o mecânico também não acreditou na história. Mas, pra não perder o cliente, aceitou fazer uma investigação mais profunda do problema. Desmontou a parte da frente do carro, e, de repente, quem aparece???? O gato!! Ele realmente existia. Tinha pêlos, patas, focinho, bigodes e rabo! Estava estrategicamente escondido em um compartimento praticamente fechado em cima da roda dianteira, do lado esquerdo. Provavelmente entrou ali durante a noite para se esquentar, porque o tempo estava meio fresco no dia anterior. Certamente, nunca sairia mais dali vivo, se não fosse o mecânico ou se o próprio gato não fosse um bom contorcionista.
A vítima era preta, aparentava ser um filhote e devia medir uns 20 cm. Imediatamente pulou para cima do motor. Em completo estado de pânico, coitado, afinal uma experiência como esta é muito radical para um recém-nascido. Uma mulher o pegou no colo, mas ele, assustado, saiu para a rua, correndo.... Para a liberdade, com uma de suas sete vidas a menos e com muitos traumas acumulados.
Certos dias, a gente se pergunta: "Por que foi mesmo que eu me levantei da cama?" Se fosse supersticiosa, ia dizer que a confusão toda foi sinal de azar, afinal, o bichano era preto....
Enfim, não posso dizer que foi um dia de cão, em respeito ao pobre do gato. Mas, certamente, ele ficará marcado em nossa lembrança como uma experiência ímpar, e, espero eu, que única também.

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